Superação: Jovem africano cruzou o oceano para se tornar lutador de MMA

Compartilhe com os seus amigos

Alô, Comunidade! Persistência, coragem e determinação são palavras que resumem bem a história do jovem Lamo Mohamed Camara, de 28 anos, da Nova Guiné.

Ele revelou ao jornal Atarde detalhes sobre como cometeu uma das maiores loucuras da vida: cruzar o oceano Atlântico clandestinamente, em um navio cargueiro, e arriscar a vida no Brasil, mais precisamente em Salvador.

Lamo Mohamed Camara fala que ao entrar na embarcação italiana, Gran San Paolo, em outubro de 2008, com destino à capital baiana, só poderia ter duas certezas.

“As pessoas contavam história de que, quando os clandestinos eram encontrados, os funcionários do navio batiam neles e, depois, jogavam no mar para o tubarão comer. Isso acontece, tem gente que sumiu e ninguém sabe até hoje. Ou seja, talvez eu nunca chegasse no Brasil e, se eu chegasse, teria que dormir na rua, porque não conhecia ninguém. Essas eram as minhas certezas, mas se eu não tentasse, jamais iria saber o meu destino, ” contou a reportagem do jornal a tarde.

A viagem, que durou cerca de 14 dias, teve um início relativamente ‘tranquilo’. Contudo, o jovem foi descoberto pelos tripulantes e preso dentro da embarcação. Ele ficou seis dias sem comer e a única coisa que fazia era beber água, em péssimas condições.

Infância difícil

Perguntado sobre a vida que costumava levar em Nova Guiné, antes de fugir para o Brasil, Mohamed Camara revelou a infância difícil.

Ele não conheceu a mãe, que faleceu ainda no parto e, pouco tempo depois, perdeu o pai por uma bala perdida durante a guerra civil em seu país. Por isso, o menino acabou indo morar com os tios.

“O fato de não ter conhecido minha mãe faz uma diferença muito grande. Às vezes, vejo as mães abraçadas com seus filhos e penso o quanto gostaria de tê-la aqui comigo, poder dizer que a amo. Meu pai também faleceu depois, por uma bala perdida em uma guerra civil. Ele e meu irmão sempre foram meus heróis”, revelou.

Brasil

No Brasil, o africano foi acolhido. Na verdade, além das pessoas que chegaram a ficar sob a tutela do jovem de 17 anos, a Bahia inteira abraçou Mohamed em sua chegada.

“Minha história atraiu o povo. Avisaram para uma juíza da minha chegada e essa mulher hoje é minha ‘mãe’. Ela ligou para o filho dela, que eu chamo de ‘pai’, e eles me ajudaram. Através disso, morei um tempo sob a tutela do Vovô do Ilê. Depois, eles me tiraram de lá e me deram tudo que eu tenho hoje. Tenho uma eterna gratidão por eles e todos que entraram em minha vida”, afirmou.

O jovem lembra que quando chegou ao Brasil o grande sonho dele era ser jogador de futebol. Fã do atacante Ronaldo Fenômeno, ele realizou uma peneira no Esporte Clube Bahia. No entanto, após perceber que não levava muito jeito com a bola nos pés, o caminho talvez fosse colocar a luva nas mãos e tentar a sorte como lutador.

“Pensei que talvez esse sonho não fosse meu. Comecei a pensar no que eu fazia de bom quando estava na África, e lembrei que eu era bom de briga. Gostava de fazer isso e não parava até sair ganhando, era algo incrível. Cheguei aqui na Champion com meu ‘pai’ e professor Dórea, que me perguntou como poderia me ajudar. Eu falei que queria ser lutador. Ele perguntou se eu queria ser lutador ou apenas treinar, eu respondi que lutador. Ele disse que aqui era academia para ser a campeão. Aquelas palavras me deixaram ‘animadão'”, disse.

 

UFC na mira

No boxe, até o momento, a trajetória foi mais vitoriosa. Em 2016, Mohamed Camara foi campeão baiano de boxe amador, na categoria até 69 kg. Mas aquilo para ele não bastava, o grande sonho do menino que saiu da África aos 17 anos agora é entrar no MMA, no evento mais importante do mundo, o Ultimate Fighting Championship (UFC).

Para correr atrás do seu objetivo, o guineense trocou o Farol da Barra pelo Cristo Redentor. Recomendado por Luiz Dórea, Mohamed foi treinar em um local especializado em MMA no Rio de Janeiro.

Mohamed revela que a grande dificuldade no MMA estava na luta agarrada, mais especificamente o jiu-jitsu e wrestling.

Na verdade, o grande problema não estava nem no estilo da arte marcial, mas nas lesões ocasionadas pelo impacto com o solo.

“No início, eu me machucava muito praticando jiu-jitsu e wrestling, por isso terminou atrasando um pouco meu desenvolvimento. Machucava mão, joelho, não sabia como cair”.

Hoje, com duas lutas em seu cartel, Mohamed Camara acumula uma derrota e uma vitória, respectivamente. Essa última, inclusive, poderá render ao atleta o prêmio de luta do ano contra Marcos Silva, pelo Shooto Brasil 90.

Lamo Mohamed Camara fala com entusiasmo quando é mencionado os objetivos da carreira.

“Irmão, eu vou ser campeão mundial. Não preciso nem de cinco anos. Antes disso, já vou entrar no UFC. Cara, eu acredito. Como disse, meus objetivos, meus pensamentos, meu sonho de vencer são tudo como pensamento. É algo que não tem limite, você pode chegar aonde chegar. Eu sou como pensamento e não vou parar. Vou ser campeão mundial e ninguém pode me parar”, afirmou.

 

Família

Mohamed conseguiu realizar um outro sonho que tinha: Reencontrar seus tios e o povo de Nova Guiné.

A volta dele para o continente africano demorou um pouco, mais precisamente nove anos, no entanto, o prazer de poder ver e ajudar seu povo foi algo indescritível.

A viagem só não foi melhor por um pequeno detalhe, o lutador ainda carrega consigo o desejo de rever seu irmão, que foi estudar fora e hoje trabalha como engenheiro.

“Quando eu cheguei na Africa, eu não consegui encontrar com meu irmão. Ele estudou no Canadá e agora está morando no Marrocos. Ele é engenheiro, mas sei que oportunidades não vão faltar de nos encontrarmos. Eu consegui rever minha família e o povo de lá, levei muito dinheiro para a galera, mas acabou muito rápido. Eu ajudei todo mundo e meu dinheiro acabou. Nunca vi gastar 15 mil em 11 dias. Deve ser ruim ser rico assim. Preciso ser milionário urgente”, falou sorrindo.

Mesmo com toda a dificuldade vivida, Mohamed agradece a todos aqueles que cruzaram seu caminho.

“Hoje eu agradeço por ter passado por tudo isso, porque foi ensinamento. Tem gente que me pergunta como passei por tudo e eu só sei que eu passei. Com muita dificuldade, mas passei e estou aqui bem. Tive pessoas incríveis em minha vida. Talvez se não fosse por isso, não estaria aqui. Se eu tivesse oportunidade, faria tudo da mesma forma”, finalizou o lutador.

 Informações Jornal A tarde

 


Siga o Comunidade Notícia no Facebook e Instagram

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.